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quinta-feira, 8 de maio de 2014

Jair Rodrigues ( * 06/02/1939 / + 08/05/2014)

Jair-Rodrigues-1

 

     Depois de um longo período sem novas postagens, volto à esse espaço de uma das maneiras mais tristes particularmente para mim. A música popular brasileira de qualidade hoje perdeu boa parte da alegria e da graça espontânea com a morte de Jair Rodrigues, considerado por muitos o inventor do RAP, mas por mim considerado um ÍCONE musical, um grande intérprete. Jair faleceu em sua residência, em Cotia (SP). A causa da morte ainda será revelada através de autopsia, mas tudo leva a crer que Jair foi vítima de um mal súbito, pois apesar da idade (75 anos), não tinha um histórico de problemas de saúde.

     Filho de Severino Rodrigues de Oliveira e Conceição Rodrigues de Oliveira, Jair Rodrigues de Oliveira nasceu no Município de Igarapava, Usina Junqueira, SP, em 06 de Fevereiro de 1939. Tinha mais três irmãos: Jairo, Maria e Maria José. D.Conceição cortava cana e Jair era seu ajudante. Um dia, Jair indagou: “ – Mãe, vamos embora daqui? Até quando a gente vai ter de levar essa vida?”. D.Conceição respondeu: “- Meu filho, por muito tempo ainda.” Imediatamente o pequeno Jair disse de maneira profética: “ – Não tem nada disso não. Quando eu crescer vou ser cantor, ganhar muito dinheiro, comprar uma casa, colocar a senhora dentro dela e não vou mais deixá-la trabalhar para mais ninguém. A senhora já criou a mim e a meus irmãos e eu é que irei passar a te criar”.

     Começou como crooner e apresentador de shows em boates. Cantava boleros, tangos, sambas, valsas e rumbas, já imprimindo seu estilo alegre de interpretar ao vivo. A chance de se profissionalizar de vez aconteceu em uma de suas apresentações na Boate Azteca, em 1960, quando conheceu a dupla de repentistas VENÂNCIO e CURUMBA, muito famosos na época. CURUMBA se torna seu empresário e logo dá a oportunidade para Jair de participar de um espetáculo no Lion’s Club de São Paulo. Logo de cara, Jair arrancou aplausos entusiasmados do público presente, com sua interpretação de EU E O RIO (Luis Antônio), na época sucesso na voz de MILTINHO. O sucesso das suas apresentações foi aumentando, até que chamou a atenção de executivos da antiga CBD (Companhia Brasileira de Discos), que contrataram Jair. Em 1962 é lançado o primeiro disco pelo selo PHILLIPS, um 78 RPM com as músicas “Brasil Sensacional” e “Marechal da Vitória”, alusivas à Copa do Mundo de futebol naquele ano. No ano seguinte é lançado o primeiro LP: O SAMBA COMO ELE É. Mas é em 1964 que a voz, swing e carisma de Jair Rodrigues ficam conhecidos do país inteiro, com o lançamento do LP VOU DE SAMBA COM VOCÊ, com o grande sucesso de sua carreira: DEIXA ISSO PRA LÁ (Alberto Paz – Edson Menezes), considerado até hoje como o primeiro RAP brasileiro. A popularidade de Jair a partir de então tomava um rumo crescente.

     No ano seguinte, foi o escolhido de última hora para substituir WILSON SIMONAL e BADEN POWELL em um espetáculo no Teatro Paramount, cantando ao lado de ELIS REGINA, também então em início de popularidade musical. Quase sem tempo para ensaiar um repertório mais elaborado juntos, JAIR e ELIS se apresentaram com um Pout-Pourri de sambas de sucesso e BOSSA NOVA. O carisma e o talento da dupla foram aplaudidos de pé por um Teatro Paramount lotado. Receberam críticas bastante positivas da imprensa no geral, que considerou a apresentação de JAIR e ELIS a melhor da noite. Logo a dupla foi contratada pela TV RECORD para apresentarem o programa O FINO DA BOSSA, um grande marco da música brasileira e que rendeu o lançamento de 3 LP’s intitulados DOIS NA BOSSA, grande sucesso de vendas. O segundo volume, lançado em 1966, trouxe outro grande sucesso da carreira de Jair: TRISTEZA (Niltinho – Haroldo Lobo), música que passou a ser obrigatória no repertório de todos os seus shows. Nesse mesmo ano acontece a consagração: II FESTIVAL DE MPB, organizado pela TV RECORD. GERALDO VANDRÉ faz o seguinte convite à Jair: “- Olha, negão. Não brinca muito quando você for cantar minha música porque ela é coisa séria.” Foi então que, logo na primeira apresentação de DISPARADA (Geraldo Vandré – Théo), Jair surpreendeu com uma apresentação primorosa, em um estilo musical completamente diferente de seu repertório de sambas e arranca os gritos entusiasmados de JÁ GANHOU, JÁ GANHOU da platéia presente. Jair interpretou também nesse festival o samba CANÇÃO PARA MARIA (Paulinho da Viola – Capinam), que se classificaria em 3º lugar, mas foi com DISPARADA, uma canção de estilo regional, que Jair se consagrou e se consolidou como um dos grandes intérpretes da MPB. A lenda conta que DISPARADA empatou em 1º lugar com A BANDA (Chico Buarque de Hollanda), por “imposição” de CHICO BUARQUE, que não aceitou ganhar o prêmio sozinho, pois considerava DISPARADA muito superior à sua A BANDA.

 

     Mais tarde, em 1985, Jair Rodrigues surpreenderia novamente o público com outra interpretação regional de grande sucesso, a sertaneja MAJESTADE, O SABIÁ (Roberta Miranda), com a participação da dupla CHITÃOZINHO E XORORÓ:

 

     Outro grande sucesso musical de Jair Rodrigues foi o tema de abertura da novela IRMÃOS CORAGEM (Paulinho Tapajós), da TV GLOBO, em 1970:

 

 

     Jair era um dos interpretes brasileiros mais conhecidos no exterior, sucesso esse que se iniciou no FESTIVAL MIDEM, de Cannes, em 1971. Foi popularmente um dos grandes divulgadores dos Sambas de Enredo, fazendo de FESTA PARA UM REI NEGRO (Zuzuca – Acadêmicos do Salgueiro, campeã do Carnaval de 1971), um de seus maiores sucessos. Lançou nomes que também seriam grandes sucessos musicais no país, como OS ORIGINAIS DO SAMBA, WANDO e ROBERTA MIRANDA. Além da PHILLIPS, Jair lançou seus discos pela COPACABANA, MOVIEPLAY e TRAMA. Estava em plena atividade.

    Foi casado com CLODINE RODRIGUES por mais de 40 anos e era pai de JAIR DE OLIVEIRA (JAIRZINHO) e LUCIANA MELLO, que também seguiram carreira  artística de  sucesso.

     Os grandes legados de JAIR RODRIGUES para a música brasileira serão a alegria que ele transmitia ao público em cada apresentação de TV ou AO VIVO e mesmo em disco, que ele fazia questão de transformar em uma grande festa nos estúdios de gravação, o carisma e seu jeito único de interpretar cada canção que à ele era confiada. Sua morte é uma perda irreparável. Não existirá nunca um novo JAIR RODRIGUES. Em um país como esse de pouca memória cultural, tomara que as futuras gerações ainda ouçam falar desse grande mestre da música brasileira, pois as canções e os vídeos estarão sempre por aí, para mostrar à essas gerações que o país teve em sua história musical alguém tão talentoso e fenomenal como JAIR RODRIGUES. O Blog CULTURA CABESOUND estará sempre fazendo a sua parte para que essa chama nunca se apague. Descanse em paz, grande CACHORRÃO!

Um comentário:

  1. Belíssima homenagem há este cantor maravilhoso, de uma voz única na musica popular brasileira.
    Obrigado Alcino,sempre arrasando em discorrer sobre os grandes nomes da musica popular brasileira.Bjs.

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