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sábado, 25 de junho de 2011

Pierre Kolmann e Seu Conjunto – Para Dançar (Musidisc – 1957).


Para dançar
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Link reativado em 18/08/2015
  
    Mais música instrumental de qualidade aqui no Blog Cultura Cabesound. Dessa vez apresento um LP lançado pela gravadora Musidisc no ano de 1957 com Pierre Kolmann e Seu Conjunto, sugestivamente intitulado como PARA DANÇAR. Mas, quem foi Pierre Kolmann?
     A partir dos anos 50, até por razões contratuais, vários músicos se valeram  de  pseudônimos para lançar discos por outras gravadoras e não terem qualquer tipo de problema com quem os mantiam sob contrato, Nilo Sérgio, um dos nossos grandes músicos de todos os tempos e fundador/dono da gravadora Musidisc, quando retornou ao Brasil em 1953 após tentar sem sucesso carreira de cantor nos EUA, trouxe na bagagem muito conhecimento sobre a indústria musical que começava a se expandir no mundo todo graças principalmente aos LP’s, que começavam a tomar o lugar dos antigos 78 RPM na prateleira dos discófilos. Também trouxe experiência suficiente num assunto que até então não era explorado pelas gravadoras brasileiras: o Marketing Comercial. Quando fundou a Musidisc, Nilo Sergio colocou em prática toda essa experiência, já que ele passou a ver a música também como um produto comercial, exatamente como se fazia nos EUA. Se os antigos 78 RPM eram comercializados embalados apenas em um simples envelope de papel e com o selo da gravadora em questão, a partir dos LP’s de 10 polegadas passou-se a ter também o cuidado com a arte visual nas capas, o que Nilo Sergio soube como ninguém utilizar nos lançamentos da sua Musidisc. Também, seguindo as novas tendências e estilos musicais que vinham de fora, a Musidisc foi uma gravadora pioneira por lançar discos em que músicos famosos da época e também orquestras se valiam de pseudônimos com forte influência musical estrangeira. Dois dos grandes sucessos da gravadora eram músicos e orquestras devidamente renomeados: a orquestra de Severino Araújo era a famosa ORQUESTRA ROMÂNTICOS DE CUBA, talvez o maior sucesso comercial da Musidisc junto com ED LINCOLN, inclusive no exterior; Moacyr Silva e Zito Righi incorporaram o saxofonista fictício BOB FLEMING, responsável pela série SAX ESPETACULAR, também outro grande sucesso da gravadora.
     Mas, o disco aqui em questão é de Pierre Kolmann e Seu Conjunto. Mais uma vez pergunto: Quem foi Pierre Kolmann? Nada mais nada menos do que o grande pianista BRITINHO (nascido João Adelino Leal Brito, em Pelotas, Rio Grande do Sul, em 05 de maio de 1917), responsável por uma extensa obra fonográfica durante as décadas de 30 e 60, com mais de 40 discos lançados.
     Esse PARA DANÇAR foi o primeiro disco lançado por Britinho sob o pseudônimo Pierre Kolmann. Na época, o título do LP e até o seu conteúdo musical foram alvos de uma certa polêmica, já que existia uma semelhança em todos os sentidos musicais com Waldir Calmon e sua série de discos FEITO PARA DANÇAR, o próprio Waldir chegou a ser brevemente acusado de ser o pianista escondido por trás do pseudônimo Pierre Kolmann, mas depois de anos a verdadeira identidade de Kolmann foi revelada: BRITINHO.
     Curiosidade: o que muitos não perceberam é que a música que fecha o disco é de autoria do próprio Britinho: Pensando em ti. Estava alí a verdadeira identidade do pianista Pierre Kolmann e ninguém percebeu.
     Disco super agradável de se ouvir e que faz jus ao título, pois foi lançado com o intuito de fazer o ouvinte realmente dançar ao som de cada melodia apresentada aqui. Repertório formado básicamente por sucessos da época, este PARA DANÇAR não poderia ficar de fora do Blog Cultura Cabesound, mesmo que um ou outro desgaste nos sulcos tentasse impedir meu trabalho de remasterização. Mas o disco está aqui, como mais um presente para você, amante da boa música!!!

Dados do Disco:

Capa: Joselito
Foto: Mafra

Músicas
Lado 1:
01- Maracangalha (Dorival Caymmi)
02- Summertime in Venice (Icini – Sigman)
03- Que sera sera (J. Livingston – R. Evans)
04- Conceição (Dunga – Jair Amorim)
05- Inamorata (J. Broocks – H. Warren)
06- Anema e core (S D’Exposito – T. Manilio)

Lado 2:
01- Night and day (Cole Porter)
02- Canadian sunset (Eddie Hewoj)
03- Dolores (Hubert Giraud)
04- Domani (J. Minucci – T. Velona)
05- None but A lonely heart (P. Tschaikowsky)
06- Pensando em ti (Britinho)

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Elizeth Cardoso e Silvio Caldas (Copacabana Discos - 1971).


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Link reativado em 30/06/2015

     Volto às postagens do Blog com algo muito especial: ELIZETH CARDOSO E SILVIO CALDAS, LP duplo histórico lançado em 1971 reunindo 2 dos grandes nomes da MPB. Trago para você, que me dá a alegria de sempre prestigiar o blog CULTURA CABESOUND o volume 1 e, espero em breve poder postar também o volume 2.

   Desta vez, ao invés de colocar aqui uma biografia de ambos (o que será feito em futuras postagens de discos de Elizeth e de Silvio em separado), transcreverei fielmente o belíssimo texto de Emilio Vitale, então Diretor Geral de Produção da Copacabana Discos, contido no interior da capa dupla do álbum. Esse texto dará à você a noção exata da importância de tal disco para a Música Popular Brasileira. Eis o texto:

     " Estávamos no ano de 1958! Um dia, quando a diretoria se achava reunida, meu irmão Vicente, que nessa época era Diretor Responsável pela Direção Artística, disse em plenário: "Desejo realizar um LP que será o Disco de Ouro da Copacabana - ELIZETH CARDOSO e SILVIO CALDAS, juntos!". Todos o aplaudiram! Vicente tentou realizar o seu desejo mas não conseguiu. Anos depois Vicente retirou-se do seu cargo, que foi assumido por mim. Mas aquela idéia não saía de minha cabeça. Várias vezes falei com Elizeth e Silvio. Lembro-me bem do primeiro contato com Silvio: foi no Noturno da Central durante uma viagem com destino ao Rio. Feita a proposta, Silvio disse logo: "Com Elizeth eu topo, porque ela é autêntica, como eu. Vivemos sempre com os mesmos ideais sobre arte musical e sobre a música brasileira pura".
     É importante salientar que essas declarações foram feitas quando o Brasil e em todo o mundo imperavam a música jovem, guitarras elétricas, etc.
     Serestas, valsas, modinhas, o próprio samba, estavam praticamente ausentes das programações das Emissoras, canais de TV, inclusive das gravadoras.
     Quando conversei com Elizeth, embora em outras palavras, a resposta foi a mesma: " Isso, Emilio, seria formidável porque Silvio tem permanecido no tempo como eu: um puro sangue; pura música nossa. Estou à sua disposição! O dificil é encontrar Silvio para nos reunirmos e depois pormos o plano em execução. Mas terá que ser um disco bem cuidado".
     " Para esse disco - respondi - a Copacabana porá à disposição tudo o que for necessário, não poupando esforços para que o LP se constitua num lançamento histórico".
     O tempo passava, Silvio às vezes se encontrava no Recife, em Fortaleza, Salvador, Porto Alegre, em longas temporadas artísticas. Quando não excursionava, refugiava-se no seu sítio em Atibaia. Além disso, houve alguns períodos em que se achava contratualmente preso a outras gravadoras.
     Elizeth, excursionando várias vezes para o exterior, contribuia também para o atraso da realização do LP. Outras vezes era eu que me ausentava do país.
     O tempo continuava passando. A idéia permanecia. Aliás, por incrível que pareça, o tempo ia se tornando meu aliado porque, cada ano que passava era mais um ponto em favor do sucesso e do prestígio desses dois inigualáveis e queridos artistas de nossa terra.
     Para Elizeth foram conferidos mais títulos, mais prêmios, mais adjetivos entre os quais: A DIVINA - A ENLUARADA.
     Elizeth foi se consagrando cada vez mais com memoráveis espetáculos. Interpretou as "Bacchianas" de Villa-Lobos no Teatro Municipal de São Paulo e no do Rio, tendo sido aplaudida, de pé, durante 15 minutos. Fato inédito.
     Na noite do festival promovido pelo Museu da Imagem e do Som, no Teatro João Caetano, recebeu outra enorme consagração. Depois, no próprio Museu, viu Elizeth que se realizava com enorme sucesso uma exposição sobre a sua personalidade - outra grande prova do seu prestígio.
     Apesar das estratégicas retiradas de Silvio para estados longinquos e sua cotidianas fugas para o seu sítio, quando de suas apresentações no Rio e em São Paulo notávamos a imensa saudade que dominava o público, obrigando-o a permanecer por longas temporadas onde quer que se apresentasse. Assim, ambos foram se tornando mais e mais queridos pelas suas legiões de fãs.
     Passaram-se os anos e, eis que os programadores de Emissoras, Canais de TV, Casas de Diversões e as próprias Gravadoras começaram a sentir falta da música genuinamente brasileira e, assim, para a satisfação de todos, as serestas, modinhas, sambas e sambões, enfim, todas as nossas músicas autênticas voltaram a ser apreciadas e os jovens passaram a aplaudi-las mais até do que os mais velhos. A prova está na quantidade de Casas que só executam o samba puro e outras há que dedicam noites inteiras às saudosas serestas.
      Assim, se um LP tivesse sido lançado alguns anos atrás, não teria sido tão oportuno nem tampouco expressivo como é hoje, já que Silvio e Elizeth resistiram ao tempo, à transformação da música e aos ritmos mencionados, permanecendo intangíveis a tudo, consagrando-se cada vez mais, definitivamente no cenário artístico-musical popular.
     Continuava ainda o tempo a passar e eu a persistir na idéia. Falei com muita gente. Silvio recebeu muitos recados e muitos apelos. Elizeth, que se encontrava mais próxima de mim, estava sempre na expectativa dessa realização, embora já não alimentasse nenhuma esperança. Também pudera! uma idéia de 12 anos sem solução, era para desanimar!
     Moacyr Silva, um dos funcionários do setor de produção artística, disse-me em dezembro p.p., todo orgulhoso: " Falei com Silvio prá valer, dessa vez vamos realizar o seu sonho! Ele vai dar um show na Ilha dos Pescadores; se o senhor for à Ilha comigo, poderemos acertar os últimos detalhes; garanto que dentro de 3 meses lançaremos o LP - ELIZETH CARDOSO e SILVIO CALDAS.". A princípio duvidei; algo porém me dizia que era chegado finalmente o momento.
     Na estréia de Silvio, eu e toda a minha equipe nos instalamos na Ilha. Assistimos a mais um êxito de Silvio numa noite inesquecível. Foi memorável também porque selou definitivamente a realização do LP.
     Coloquei à disposição de Silvio e de Elizeth todo o nosso setor artístico do Rio e de São Paulo. Foram convidados todos os maestros, regentes, músicos, técnicos, lay-autistas, enfim todos os elementos que ambos exigiram, a fim de que se realizasse a contento a tão esperada produção. E aí está ela. O entusiasmo foi tão grande que Elizeth e Silvio foram gravando, gravando, e o resultado final foi que pelo grande número de gravações realizadas foi preciso lançar 2 álbuns. Assim, se o tempo de espera foi longo, foi bem compensado porque em vez de 1 LP estou entregando aos fãs de ambos 2 álbuns de ouro!
     Quero de público deixar os meus agradecimentos em primeiro lugar aos queridos artistas e meus grandes amigos Silvio e Elizeth, por atenderem a meus apelos. À Moacyr Silva por sua valiosa intervenção e perseverança no momento oportuno; à Paulo Rocco e novamente Moacyr, pela produção; aos maestros Luís Arruda Paes, Luís Chaves e Leo Peracchi pela dedicação; ao extraordinário Regional de Canhoto, que tão carinhosamente acompanhou esta realização; aos técnicos Rogério Gauss e Renaldo Mazziero que não mediram esforços no desempenho de suas funções; ao engenheiro de som Carlos de Assis Moura pela supervisão de toda a parte técnica junto aos seus comandados, a fim de que a qualidade de som fosse a melhor; por último, quero agradecer também à equipe que trabalha sob minha orientação, de vez que também ela não poupou esforços para que esta produção fosse coroada de êxito, à altura do meu desejo, bem como de meus irmãos José e Afonso, os quais há muito vinham aguardando este lançamento.
     Aos fãs de Elizeth e Silvio peço perdoarem pela demora havida, não foi por minha culpa, foi do tempo que, caprichoso, preferiu que ambos ficassem mais velhos, mais e mais queridos para que estes 2 LP's fossem guardados como jóias de inestimável valor.
     Não vou comentar nenhuma faixa, prefiro que cada cronista de Rádio, TV, Imprensa e principalmente cada qual em particular o fala expontâneamente.
     Ao apresentar estes 2 álbuns, a Copacabana o faz com muito orgulho, esclarecendo que obedeceu ainda ao propósito de fazer desta produção uma obra viva, um repertório destinado a glorificar a nossa música e não apenas mais dois discos para ficarem simplesmente nas discotecas.
     Não tenho palavras para expressar o que sinto; por isso, muito comovido digo somente: obrigado Elizeth. Obrigado Silvio, o nosso sonho foi realizado! ".
     
Músicas:

Lado 1:

01- Pout-Pourri
Serenata (Silvio Caldas - Orestes Barbosa)
Apêlo (Baden Powell - Vinicius de Moraes)
Arrependimento (Silvio Caldas - Cristóvão de Alencar)
Canção de amor (Chocolate - Elano de Paula)
Quase eu lhe disse (Silvio Caldas - Orestes Barbosa)
Nossos momentos (Haroldo Barbosa - Luis Reis)
Inquietação (Ary Barroso)
Consolação (Vinicius de Moraes - Baden Powell)
Meus vinte anos (Wilson Batista - Silvio Caldas)
02 - Chão de estrelas (Orestes Barbosa - Silvio Caldas)
03 - Mente ao meu coração (Malfitano - Pandia Pires)

Lado 2:

01 - Serra da boa esperança (Lamartine Babo)
02 - Andorinha (Silvio Caldas)
03 - O amor é assim (Sivan)
04 - Tristezas não pagam dívidas (Ismael Silva)
05 - Modinha (Sérgio Bittencourt)