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quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Magro ( * 14 – 11 – 1943 / + 08 – 08 – 2012)

Magro

     O ano de 2012 ainda nem chegou à sua fase final e vários músicos de renome nacional e mundial estão nos deixando órfãos de seus talentos apurados. Nunca em toda a existência do Blog CULTURA CABESOUND foram feitas tantas postagens relacionadas à categoria SAUDADE em sequência como nesse período. E, agora, registro minha singela homenagem à MAGRO, um dos fundadores de um de meus grupos vocais e instrumentais de preferência: O MPB 4.
     Magro lutava a 10 anos contra um câncer na próstata, já diagnosticado com metástase, e mesmo já enfrentando complicações devido a doença desde 2010, fez apresentações normalmente com o MPB 4 até o último dia 8 de junho.
     Antonio José Waghabi Filho nasceu em Itaocara, cidade do Estado do Rio de Janeiro, em 14 de novembro de 1943. Muito cedo aprendeu a tocar violão, piano, tambor e clarineta, aprendendo um pouco mais tarde também a tocar vibrafone, saxofone e percussão. Em 1959, estudou música, tendo como professores Guerra Peixe, Isaac Karabtchewsky e Vilma Graça. 
     Em 1960 iniciou carreira artística como vibrafonista no conjunto de bailes Praia Grande, atuando durante 2 anos. Na faculdade de engenharia, conheceu MILTINHO, com quem logo montou uma banda. Como integrante do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC-UNE), conheceu AQUILES e RUY, também integrantes do CPC. Junto a MILTINHO, descobriram que seus talentos vocais e instrumentais se completavam e, decidiram assim formar um quarteto, primeiramente nomeado QUARTETO DO CPC, mas logo que se profissionalizaram rebatizaram o quarteto como MPB 4, iniciando assim uma trajetória ímpar na história da MPB, sendo logo contratados pela gravadora ELENCO em 1964, para a gravação de um compacto. Daí o MPB 4 passa a entrar em contato com vários artistas recém lançados na época, como Nara Leão, Quarteto em Cy, Sidney Miller e Chico Buarque de Hollanda, entre outros nomes. Com Chico Buarque, o MPB 4 iniciou uma parceria próspera que durou aproximadamente 10 anos, entre turnês,  gravações e apresentações em festivais de música, ficando célebre a parceria em RODA VIVA, que conquistou o 5ºlugar no Festival da MPB de 1967, canção esta que teve arranjos de Magro.
     Quem viveu a década de 70 lembra com carinho de Magro como o jumento do álbum infantil OS SALTIMBANCOS. O público lembra também com carinho da participação do MPB 4 no especial da TV GLOBO “A ARCA DE NOÉ”, com músicas infantis compostas por Vinicius de Moraes. O PATO se tornou um dos maiores clássicos da carreira.
      Nesses mais de 50 anos de carreira, Magro se destacou como arranjador. Além de trabalhos com o próprio MPB 4, também assinou arranjos musicais para Chico Buarque, Toquinho e Vinicius, Simone e Kleiton e Kledir, entre outros.
     Nesse dia 08 de agosto, Magro se foi, depois de travar uma luta de 10 anos contra um câncer de próstata. Aquiles, um de seus parceiros de MPB 4, expressou assim a dor da perda:
"Depois de longa luta pela vida, Antonio José Waghabi Filho, o Magro do MPB4, nos deixou. Com ele vai junto uma parte considerável do vocal brasileiro. Com ele foi a minha música".
     O corpo de Magro será cremado nesta quinta-feira (09/08), no cemitério de Vila Alpina, zona leste de São Paulo.
     A música perde mais um de seus mestres. Descanse em paz, Magro!



segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Celso Blues Boy ( * 05 – 01 – 1956 / + 06 – 08 – 2012 )

Celso Blues Boy

     Apenas três dias após a partida do grande SEVERINO ARAÚJO, a música brasileira lamenta a morte de mais um grande nome: CELSO BLUES BOY, primeiro Bluesman brasileiro e que influenciou uma leva de músicos admiradores desse estilo musical. O Blog CULTURA CABESOUND não poderia deixar de registrar aqui essa homenagem àquele que fez do Blues um estilo de vida.
     Nascido Celso Ricardo Furtado de Carvalho, no Rio de Janeiro em 5 de janeiro de 1956, começou a tocar profissionalmente ainda aos 17 anos de idade, acompanhando nada mais nada menos que Raul Seixas. Acompanhou também Sá & Guarabyra e Luiz Melodia.
     Adotou o Blues Boy no nome, em homenagem ao seu grande ídolo: B.B. King. Foi também um dos primeiros a cantar blues em português. Montou a banda Legião Estrangeira em 1976, com a qual se apresentava em bares e casas de show. Fez parte também da banda Aeroblues, considerada a primeira banda de Blues do Brasil.
     Celso Blues Boy começou a alcançar a merecida fama quando mandou uma fita para a Rádio Fluminense, no Rio. A rádio então era a mais ouvida pelo público roqueiro. Aquele guitarrista branco de voz rouca e que sempre empunhava uma Fender Stratocaster, tal qual Eric Clapton, tornou-se conhecido e ganhou espaço nos programas de auditório. Gravou o primeiro disco em 1984, intitulado SOM NA GUITARRA, que apesar de ser um disco típicamente de Blues, ficou célebre por incluir uma faixa que era puro Rock and Roll e, se tornou seu maior sucesso: AUMENTA QUE ISSO AÍ É ROCK AND ROLL. Suas músicas também  fizeram parte das trilhas sonoras dos filmes ROCK ESTRELA e BETE BALANÇO. Seus outros grandes sucessos foram a música MARGINAL, com a luxuosa participação de CAZUZA  e a música FUMANDO NA ESCURIDÃO. 
     Na sua tentativa de seguir carreira internacional, Celso Blues Boy acabou por conhecer seu grande herói da guitarra: B.B. KING. Com ele, Celso fez algumas apresentações e gravou a faixa MISSISSIPI, realizando um sonho que muitos ainda tentam e não conseguiram realizar até os dias de hoje. A faixa foi incluída no disco INDIANA BLUES, de 1995.
     Foi um dos mais ilustres e fervorosos torcedores do Clube de Regatas Vasco da Gama, tendo participado do Megashow comemorativo dos 113 anos do clube, tocando o hino do clube em sua guitarra.
     Em 2008, foi lançado seu primeiro e único DVD ao vivo, intitulado QUEM FOI QUE FALOU QUE ACABOU O ROCK AND ROLL?, gravado no Circo Voador, no Rio de Janeiro.  Esse show também foi registrado em CD.
     Seu último CD foi lançado em 2011 e foi intitulado POR UM MONTE DE CERVEJA.
     Celso Blues Boy morreu na manhã desta segunda-feira (06/08/2012) em Joinville, Santa Catarina, aos 56 anos de idade. Apesar de o empresário afirmar que Celso sofria de BÓCIO, mais popularmente conhecido por PAPO, que é o aumento da tireóide causado pela perda de iodo no organismo, a principal causa da morte foi um câncer na garganta, que Celso enfrentou bravamente por algum tempo.
     Um som de guitarra bem caprichado adentrou o céu no dia de hoje. Descanse em paz, CELSO BLUES BOY!

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Severino Araújo ( * 23 – 04 – 1917 / + 03 – 08 – 2012 )

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     O Blog CULTURA CABESOUND presta uma singela homenagem à mais um grande músico que se despede nesse ano de 2012: O Maestro SEVERINO ARAÚJO, que por 70 anos comandou a ORQUESTRA TABAJARA, a maior e mais longinqua orquestra de bailes do Brasil.
     SEVERINO ARAUJO faleceu na noite de hoje (03/08) no Rio de Janeiro, vítima de falência múltipla de órgãos, após ficar internado durante 15 dias no Hospital Ipanema INN. Seu corpo será sepultado ao meio-dia deste sábado (04/08), no Cemitério São João Batista, em Botafogo.
     Nasceu em Limoeiro, Pernambuco, em 23 de Abril de 1917. Seu pai, Mestre Cazuzinha, já contava com a ajuda do pequeno Severino, então com 8 anos de idade, em suas aulas de música, o garoto então já demonstrava que tinha ouvidos apurados e talento para se tornar um grande músico. Entre os 14 e 15 anos, Severino já era apaixonado pelo som das Big Bands de Tommy Dorsey e Grenn Miller, que ouvia nas lojas de disco ou por rádio e, passou a sonhar um dia em adaptar tais músicas ao estilo brasileiro.
     Com 16 anos iniciou a carreira artística fazendo arranjos musicais para a banda de Ingá, cidade esta para qual a família Araújo havia se mudado a pouco. Além dos arranjos, Severino começava a se notabilizar como clarinetista, talento esse que o fez ser chamado para ser primeiro clarinetista da banda da Polícia de João Pessoa, em 1936. Já residindo na capital paraibana, Severino vê a sua grande oportunidade artística chegar, quando o governo da Paraíba faz uma série de contratações para a recém inaugurada PRI-4, que seria a emissora de rádio oficial da região. Para as intervenções musicais foi contratada a Orquestra Jazz Tabajara, logo rebatizada de Orquestra da Rádio Tabajara e, como não poderia deixar de ser, o jovem Severino é chamado para integrar a Orquestra, então tocando saxofone.
     Em 1938 aconteceria um fato que marcaria definitivamente a carreira de Severino Araújo: O então maestro da Orquestra, o pianista e regente Luna Freire falece repentinamente, então o jovem Severino é o escolhido pela direção da rádio para substituí-lo. Como condição para assumir a “batuta” da orquestra, Severino solicita à rádio a contratação de mais um trombone, um saxofone e um trompete. Chamou então, os irmãos Manuel e Jaime, além de um ex-colega da banda da Polícia de João Pessoa. Até deixar a Paraíba, a orquestra era composta de três trompetes, três trombones e quatro saxofones, além do ritmo com quatro elementos. Mais tarde entrariam na orquestra seus dois outros irmãos. Severino então começa a pôr em prática a idéia de adaptar o som das Big Bands aos rítmos tipicamente brasileiros.
     Em 1943 é convocado para o exército. Serve durante 1 ano no 15º R.I, num local denominado Aldeia, no interior de Pernambuco. Compõe então aquele que seria seu primeiro sucesso popular: UM CHORINHO EM ALDEIA. No ano seguinte, recebeu através de seu amigo Porfírio Costa propostas para trabalhar profissionalmente no Rio de Janeiro, mais precisamente no CASSINO COPACABANA  e na RÁDIO TUPÍ. Severino aceita o convite da RÁDIO TUPÍ e muda-se definitivamente para a então capital do país. Nesse mesmo período é contratado pela gravadora CONTINENTAL, onde gravou seus primeiros discos, ainda em outubro de 1944. Ainda em fins de 1944, se apresentou na Rádio Tupi com a Orquestra Marajoara interpretando o choro "Chorinho em Aldeia", executando clarinete. Essa transmissão ocorreu num domingo e foi gravada em acetato pela emissora. Já na segunda-feira inúmeros telefonemas pediam para que a rádio reprisasse a gravação. Em 1945, lançou o disco que se tornaria um verdadeiro clássico da MPB: o chôro ESPINHA DE BACALHAU, de sua autoria e gravado com a ORQUESTRA TABAJARA, que no mesmo ano chegou ao Rio de Janeiro também contratada pela Rádio Tupi.
     Chegando o ano de 1962, Severino e a Orquestra Tabajara são contratados pela RÁDIO NACIONAL, onde permaneceram por 2 anos. Depois, foram contratados pela TV RIO, onde permaneceram até 1968. Nesse mesmo ano, após 35 anos de atividades artísticas, Severino Araújo se aposenta, o que não seria uma decisão definitiva, já que ele permanece fazendo bailes, shows e gravações em discos durante mais 37 anos, tornando inclusive célebres as apresentações no CIRCO VOADOR durante a década de 80, em bailes dominicais denominados de DOMINGUEIRA VOADORA. Em 2005, devido a problemas de locomoção causados por uma operação no joelho, Severino passa o comando da Orquestra Tabajara ao seu irmão, JAIME ARAÚJO.
     Em 15 de junho de 2010, a TV Cultura levou ao ar, no programa Mosaicos, o especial A arte de Severino Araújo e Orquestra Tabajara, um documentário musical narrado por Rolando Boldrin, que resgata a história e a obra dos homenageados. Dirigido por Nico Prado, o programa recupera imagens históricas do artista. Também promove o encontro inédito de Jaime Araújo, Spok e Proveta, da Banda Mantiqueira. Eles falam sobre a importância de Severino para a música brasileira e interpretam três clássicos de autoria do maestro pernambucano: Relembrando o Norte, Espinha de bacalhau e Chorinho. Nesse mesmo ano é lançada a biografia “Orquestra Tabajara de Severino Araújo" , de autoria de Carlos Coraúcci.
     O legado e a grande contribuição de Severino Araújo para a música brasileira ficarão para sempre registrados. Como não poderia deixar de ser, o Blog CULTURA CABESOUND registra tambem aqui este justo tributo. Descanse em paz, Maestro!!!