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sábado, 25 de fevereiro de 2012

Wando – Glória à Deus no céu e samba na terra (Beverly – 1973).


Glória a Deus no céu e samba na terra (capa)
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Link reativado em 03/04/15

     Realmente, o mês de fevereiro de 2012 vai ficar marcado por grandes perdas na música mundial. Perdemos ontem pela manhã PERY RIBEIRO, que na minha modesta opinião foi uma das mais belas vozes da música mundial. Anteriormente o mundo foi pego de surpresa com a morte prematura da “Diva” Whitney Houston, que mesmo com todo o histórico de envolvimento pesado com drogas havia dado sinais recentemente de que a carreira de sucesso retornaria aos eixos. E, eis que, no último dia 08/02, após um período internado no CTI do Hospital Biocor, Nova Lima (BH), em decorrência de complicações cardíacas gravíssimas, morreu WANDO, considerado por alguns um cantor meramente brega, mas por muitos um dos maiores nomes da música romântica brasileira.
     Wanderley Alves dos Reis nasceu em Cajuri, Minas Gerais, em 02 de Outubro de 1945. Filho de Belmira Martins dos Reis e Argentino Alves dos Reis, o menino Wanderley mostrou gosto pela música desde cedo, mas a família não tinha condições financeiras para incentivar uma eminente carreira artística. O “apelido” Wando, que se tornaria seu nome artístico definitivo, foi dado por sua avó.
     Ainda menino mudou-se para Congonhas do Campo com a família e lá teve os primeiros passos musicais aprendendo um pouco de violão erudito. Viveu na cidade até a adolescência, quando formou com alguns amigos sua primeira banda de baile e, decidiu que a música era a única forma que se tinha de conquistar as mulheres. Tempos depois se mudou para Volta Redonda. Lá, para sobreviver, trabalhou como feirante, jornaleiro e caminhoneiro. Nas horas vagas compunha suas próprias canções. Teve a primeira chance artística em uma rádio local e começa definitivamente a “bater nas portas” a procura de alguém que se interessasse por gravar suas músicas.
     Finalmente descoberto por Nilo Amaro (Cantores de Ébano), muda-se para São Paulo, onde passa a se apresentar em bares e restaurantes e começa assim a dura caminhada em busca da tão sonhada oportunidade artística. E ela chegou em 1971, quando o próprio Nilo Amaro, sabendo do desejo de Jair Rodrigues de gravar uma música bem alegre sobre carnaval, leva Wando até o encontro de Jair. Nesse encontro, Jair pôde então testemunhar todo o talento de compositor do jovem Wando ao ser apresentado ao samba “O importante é ser Fevereiro”. Por gratidão, Wando deu parceria deste samba à Nilo Amaro. Jair então decide gravar o samba, que se torna a primeira composição de grande sucesso da carreira de Wando. Mas, o Wando cantor também tinha seu talento e ele foi contratado, graças a ajuda de Nilo Amaro e ao sucesso de “O importante é ser Fevereiro”, pelo selo BEVERLY, que na época ainda não pertencia à Discos Copacabana, para lançar o seu primeiro compacto: MARIA MARIÁ.
     O ano de 1972 começa com mais composições de sucesso, exemplo disso é CATIMBA CRIOULO, gravada pelos Originais do Samba, e principalmente SE DEUS QUISER, mais uma gravação de sucesso com Jair Rodrigues. No ano seguinte, Wando apresenta à Angela Maria a composição VÁ, MAS NÃO VOLTE, que Angela grava e se torna mais um grande sucesso. Abre-se as portas então para Wando gravar seu primeiro LP: GLÓRIA À DEUS NO CÉU E SAMBA NA TERRA, um ótimo disco carregado de Swing, Samba e rítmos regionais, aclamado pela crítica e de certa forma bem aceito pelo público, com um estilo musical bastante diferente do Wando dos anos posteriores. Aos poucos então, o Wando meramente compositor dá lugar ao cantor. No final de 1974, Wando grava a canção que o tornaria definitivamente conhecido no Brasil inteiro: “Moça”, que vira inclusive trilha sonora da novela “Pecado Capital” e se torna um  dos maiores sucessos do ano de 1975, totalizando a impressionante marca de 1.200.000 discos vendidos.
     Mas a história de “Moça” e do posterior rótulo de cantor “Obsceno” e “Rei das calcinhas” ficará para capítulos seguintes, pois o disco que o Blog CULTURA CABESOUND traz aqui é exatamente GLÓRIA À DEUS NO CÉU E SAMBA NA TERRA. Quem não conhece irá se surpreender com o Swing e o balanço contigo em cada faixa desse disco e até poderá conhecer o lado “politizado e crítico” das letras de Wando e de alguns compositores desconhecidos do grande público até então. Esse disco mostra que Wando não era um mero cantor “Brega”.
    É uma homenagem póstuma atrasada? Sim, mas feita com carinho. Descanse em paz Wando!!!

Dados do Disco:

Estúdio: Reunidos
Direção Musical e Arranjos p/ Orquestra: Waldomiro Lemke
Coordenação: Talmo Scaranari e Decio Fonsi
Corte: Rogério Gauss
Engenheiro de Gravação e Mixagem: Renaldo Mazziero
Fotos: Oswaldo Micheloni
Lay-Out: Delbucio

Músicas
Lado 1:
01- Deus no céu e samba na terra “Samba é aleluia” (Wando)
02- Lamento do capoeira (Ditinho – Dunga)
03- O ferroviário (Cezar – Cirus)
04- Tapa na tristeza (Wando)
05- Adeus e até logo (Wando – Yara)
06- Sou da madrugada (Wando – Gilson de Souza)

Lado 2:
01- Pago prá ver (Beto Scalla – São Beto)
02- Amanhã é outro dia (Isolda – Milton Carlos). Participação Especial de Sueli Lopes
03- Ouça meu amor (Sérgio Lemke)
04- Malandro guardado (Wando – Rose)
05- Benedito e Julieta (Clóvis Cavalcante – Casabranca)
06- Falou e disse (Reginaldo Vasconcelos)
07- O importante é ser Fevereiro (Wando – Nilo Amaro)
       Se Deus quiser (Wando – Jair Rodrigues)

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Pery Ribeiro (27 / 10 / 1937 – 24 / 02 / 2012)

 

Pery

     Mês de Fevereiro de grandes perdas para a música brasileira. Primeiro foi WANDO, que nos deixou no dia 08/02 e que terá seu devido espaço de homenagem no blog CULTURA CABESOUND com certo atraso mas preparado com muito carinho, e hoje pela manhã perdemos PERY RIBEIRO, vítima de um infarto fulminante, após 30 dias de internação no Hospital Universitário Pedro Ernesto, RJ, para tratamento de uma endocardite.

     Peri Oliveira Martins nasceu no Rio de Janeiro em 27 de outubro de 1937. Fruto da união de dois mestres de nossa música, Dalva de Oliveira e Herivelto Martins, Peri tinha seis irmãos (quatro por parte de pai, um de pai e mãe, e uma irmã adotiva, por parte de mãe). Aos 3 anos de idade iniciou a carreira artística não como cantor, mas na dublagem do filme da Disney “Branca de Neve e os 7 Anões” ao lado da mãe, que dublou a voz da Branca de Neve, enquanto o pequeno Peri dublou a voz do anão Dengoso.

     A carreira musical dos pais sempre foi admirada por Peri, que optou também por seguir carreira de músico ainda na infância. Em 1941, com quatro anos de idade, apresentou-se no Teatro Municipal do Rio de Janeiro e aos 5 anos, em 1942, participou de “It’s All True”, o filme inacabado de Orson Welles, filmado no Brasil. Atuou ainda, em 1944, no filme "Berlim na batucada", de Luís de Barros. Já na adolescência começou a fazer apresentações como cantor profissional.

    Em 1959, Cesar de Alencar, conhecedor do grande talento musical do então Cameraman da extinta “TV TUPI” Peri Oliveira, levou o jovem para fazer uma apresentação musical no programa de Paulo Gracindo, na Rádio Nacional. Nessa apresentação, assumiu o nome artístico PERY RIBEIRO, por sugestão do próprio Cesar de Alencar. Não demorou muito para que Pery Ribeiro fosse contratado pela ODEON, mesma gravadora de Dalva de Oliveira, lançando seu primeiro 78RPM em 1960. No ano seguinte, foi o primeiro cantor a gravar “Manhã de Carnaval”, de Luiz Bonfá e Antonio Maria, sucesso mundial a partir do lançamento do filme “ORFEU NEGRO”. Em 1962 lança o seu primeiro LP: PERY RIBEIRO E O SEU MUNDO DE CANÇÕES ROMÂNTICAS, com acompanhamento luxuoso de Luiz Bonfá ao violão, com músicas como “Caminhemos” do pai Herivelto Martins e “Esquecendo você” de Tom Jobim. Mas foi no ano seguinte, com o lançamento do LP PERY É TODO BOSSA que Pery Ribeiro escreveu seu nome definitivamente como um dos grandes intérpretes de nossa música, registrando com muito sucesso a primeira gravação de “Garota de Ipanema” de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, que se tornou uma das músicas brasileiras mais conhecidas e reverenciadas mundialmente. Em 1964 lança mais um LP dedicado à BOSSA NOVA, intitulado “PERY MUITO MAIS BOSSA”.

     Em 1965, sob a direção de Miele e Ronaldo Bôscoli, ao lado de Leny Andrade e do grupo Bossa 3, formado por Luis Carlos Vinhas ao piano, Otavio Bailly no baixo e Ronnie Mesquita na bateria, Pery Ribeiro atuou no show "Gemini V", apresentado com sucesso na boate Porão 73 e no Teatro Princesa Isabel (RJ). Este show ficou em cartaz por 1 ano e meio, e foi lançado no LP ao vivo GEMINI V- SHOW NA BOATE PORÃO 73 – LENY ANDRADE, PERY RIBEIRO E BOSSA 3. Atuou ainda em vários filmes, no Brasil e também no exterior.

     Depois de lançamentos musicais que incluiram até o México como escala, Pery foi convidado por Sérgio Mendes em 1968 a viajar para os EUA e integrar o BOSSA RIO, ao lado de nomes como Gracinha Leporace e Ormar Milito, entre outros. Durante 4 anos Pery e o grupo BOSSA RIO excursionaram pelos EUA e Europa, dividindo o palco com nomes como Burt Bacharach, Johnny Mathis, Herb Alpert e Henri Mancini. Retornou ao Brasil devido ao agravamento do estado de saúde de sua mãe, Dalva de Oliveira, que veio a falecer em 1972. Seu pai, Herivelto Martins, veio a falecer 20 anos depois, em 1992.

     Pery sempre teve admiradores fiéis que adquiriam e ainda adquirem seus lançamentos musicais e sempre teve um público respeitável em seus shows, seja no Brasil ou no exterior e todos, com certeza, lamentaram e ainda lamentam profundamente sua morte. O Blog CULTURA CABESOUND não poderia deixar de prestar esta singela homenagem à este que foi, sem sombra de dúvidas, o dono de uma das mais belas vozes não só da música brasileira, mas também da música mundial. Siga em paz Pery, o céu te espera para muitos shows!!!