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quarta-feira, 14 de abril de 2010

Waldir Calmon e seu Conjunto – Feito para dançar nº5 (Long Play Rádio – 1956)

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      Volto às postagens musicais do Blog com algo muito especial:
     Sou admirador do trabalho do grande pianista Waldir Calmon, que ouço desde pequeno por causa dos fins de semana em que minha mãe costumava colocar sua valiosa coleção de LP’s para tocar e entre eles sempre tinha um de Waldir. Ficava fascinado todas as vezes em que ouvia aquele pianista de toques “mágicos” e repertório irretocável. Minha mãe já se foi e esses discos ficaram como uma grande “herança”.
     Para minha felicidade tive a honra de conhecer a filha de Waldir, Márcia Calmon: Uma cantora de grande valor, que faz um belíssimo trabalho de resgate da tradicional, verdadeira e bela MPB junto ao seu marido, o violonista Tranka, mas que ainda não teve o merecido reconhecimento da mídia e do grande público. Confira o canal de Márcia Calmon e Tranka no You Tube: http://www.youtube.com/user/marciacalmon e você terá toda a certeza de que não é um mero elogio exagerado de um admirador musical, mas sim de alguém que sabe dar valor a tudo o que tem qualidade!!!
     Em uma das conversas que tive com Márcia, o “cara de pau” aquí citou o fato de possuir alguns discos de seu pai na coleção e que gostaria de postá-los aquí no Blog, claro, sob autorização de Márcia e de toda a família Calmon. Confesso que me deu até um friozinho na espinha aquela incerteza da autorização. Mas, para minha agradável surpresa não apenas obtive a autorização para a postagem, como também a autorização por intermédio da própria Márcia Calmon de “explorar” o caprichado site que ela fez, com tudo sobre a vida e a carreira do grande Waldir Calmon, a biografia a seguir inclusive teve como fonte o site.
     Então, aquí vai a citada biografia, parte do site http://www.waldircalmon.com/. Agradeço à Márcia e à toda família Calmon pelo privilégio de mostrar aos amigos de CULTURA CABESOUND um dos mais belos capítulos da história da MPB:
    “Waldir Calmon Gomes nasceu em Rio Novo, pequena cidade mineira, em 30 de janeiro de 1919. Primeiro dos quatro filhos de Helena e Waldemar, Waldir teve uma infância pobre. Sua mãe ensinou música a todos os filhos, mas só Waldir demonstrou real interesse pela arte. Aos catorze anos formou um pequeno conjunto com baixo, piano, bateria, trompete e sax. O grupo apresentava-se em bailes por Rio Novo e Waldir, além de tocar piano, cantava no estilo de Orlando Silva. Seu pai não aprovou a iniciativa, mas os rapazes continuaram assim mesmo, pois o conjunto era um sucesso. "Éramos os únicos da cidade. Tinha que dar certo!", divertia-se Waldir.
     Pouco tempo depois, foi estudar na Academia de Comércio de Juiz de Fora, Minas Gerais. Em 1936, com 17 anos, veio para o Rio de Janeiro, trazendo uma carta de apresentação para o compositor e flautista Benedito Lacerda. Graças a essa amizade, conseguiu um pequeno trabalho como cantor e pianista na rádio Guanabara e apresentou-se em programas de grande audiência, como O Nosso Programa, de Ataulfo Alves e Raul Longras, e Samba e Outras Coisas, de Marília e Henrique Batista - ambos na rádio Cruzeiro do Sul. A convite de Eva Todor começou a tocar também nos intervalos de seu espetáculo no teatro Rival.
     Nesta fase, lançou o  solovox  -  um pequeno sintetizador de três oitavas, monofônico e importado que era acoplado ao piano acústico, fazendo um som diferente. O solovox, fabricado pela Hammond Organ Co norte-americana entre 1940 e 1950,  foi o precursor dos teclados eletrônicos em geral e era conectado a um gabinete com um amplificador valvulado e alto-falantes de 8" que geravam o som. Waldir, então com algum prestígio, foi convidado a fazer uma temporada na Argentina. Alguns meses depois, em 1940, a morte de sua mãe obrigou-o a voltar para o Brasil. Decidiu abandonar a música e, numa entrevista ao Jornal do Brasil em 1975, explicou que Helena Calmon foi a grande responsável por sua carreira. "Foi minha mãe que me ensinou a tocar piano, ajeitando com paciência os meus dedos no teclado. Quando ela morreu, tive raiva de tudo e resolvi abandonar a música", justificou. Foi trabalhar então no banco Moreira Salles, mas, como ele próprio dizia, "era um péssimo bancário".
     Em 1944, Waldir Calmon formou seu primeiro conjunto, Gentleman da Melodia, e com ele fez uma série de apresentações na rádio Globo. Logo depois, desligou-se do exército e foi para São Paulo trabalhar no Cassino Atlântico. Foi convidado então para tocar na recém-fundada boate Night and Day, no Rio de Janeiro, sendo obrigado a desfazer o Gentlemen da Melodia e deixou São Paulo.  O primeiro registro do piano de Waldir em vinil, ainda com o nome artístico Waldir Gomes, é de 1941, na gravação original de Leva Meu Samba - acompanhando o autor, Ataulfo Alves (Odeon). Apesar disso, só conseguiu gravar seu primeiro disco-solo em 1951 (Star), com os boleros Como Eras Linda, de Theo Mackben, e Por Quanto Tempo, de Marino Pinto e Don Al Bibi.
     Em 1952, começou a apresentar o programa semanal Ritmos S. Simon, pela TV Tupi, e posteriormente pela TV Rio. O programa permaneceu dez anos no ar e transformou-se em um disco-brinde que o patrocinador, as lojas S. Simon, oferecia a seus clientes. Ao mesmo tempo, a Rádio Serviço e Propaganda contratou Waldir Calmon e seu conjunto para uma série de apresentações transmitida em cadeia nacional diariamente pelas Associadas. O programa fez tanto sucesso que a Rádio Serviços montou uma fábrica de discos e lançou o seu primeiro LP com o pianista. O vinil chamava-se Ritmos Melódicos e possuía oito das músicas mais solicitadas pelo programa diário transmitido pelas Associadas. Waldir entrava para a história fonográfica como o primeiro músico a gravar um long-play de dez polegadas na América do Sul. Waldir também gravava muitos jingles, como "duas gotas, dois minutos, dois olhos claros e bonitos" (Miguel Gustavo), do colírio Moura Brasil. Nesta fase, um de seus 78 rotações (Copacabana Discos) com as músicas Mambo en España (Ramon Marquez) e  Cao Cao Mani Mani Picao (Carbô Menendez) foi um grande sucesso em vendas e execução. O pianista tornou-se famoso e passou a ser solicitado para bailes em todo o Brasil.
     As gravações continuavam: em 56, lançou o LP Samba, Alegria do Brasil (Rádio). Neste álbum, encontramos Na Cadência do Samba (Que Bonito É), de Luís Bandeira, que se transformou em hino do futebol brasileiro, graças à veiculação maciça, em todos os cinemas do país, no  noticiário Canal 100. Apesar disso, Waldir Calmon nunca recebeu os direitos de execução.  Ritmos Melódicos (Rádio) teve um segundo volume e outras séries de LPs surgiram, como Chá Dançante, Mambos, Para Ouvir Amando e, a mais famosa de todas, Feito Para Dançar (doze volumes). Com ela, Waldir atingiu a marca de 100.000 exemplares vendidos em 1957 - fenômeno para a época. A série Feito Para Dançar foi lançada em 1953 e foi o primeiro disco popular editado em 12 polegadas no Brasil, além de ser o único LP, na época, especialmente  para dançar, sem interrupção de  faixas. Nesta época, gravou com a cantora Angela Maria o LP Quando os Astros Se Encontram (Copacabana Discos). Sempre atento às novidades, sugeriu à Angela que interpretasse uma canção mexicana desconhecida no Brasil. Nascia um dos maiores sucessos da "sapoti": Babalu (Margarita Lecuona).
     Em 1956, saiu da Night and Day, após oito anos, e abriu sua própria boate no Leme, Rio de Janeiro - a Arpége. O sucesso foi tanto que outra série de discos, Uma Noite no Arpége, surgiu. Nomes como Tom Jobim, Chico Buarque  e Ary Barroso, entre outros, apresentaram-se em sua boate. Em 1959, formou a Waldir Calmon Produções Artísticas e fundou o selo Arpége que teriam, como primeiro disco, a reedição do vinil Uma Noite no Arpége 3 - já lançado pelo selo Rádio (1956) e Copacabana (1959). Waldir ganhou vários troféus, prêmios e apareceu também em filmes nacionais.
     Em 1962, casou-se com a cantora Martha Kelly e teve seus dois filhos: Márcia e Marcus. O selo Arpége e a produtora acabaram e, em 1968, a boate fechou. Waldir começou a fazer temporadas pelo Brasil até que, em 1969, o diretor artístico do Canecão, Wilton Franco, convidou-o para animar a casa de shows em Botafogo, Rio de Janeiro. Nessa época, trocou o piano acústico por um órgão Hammond B-3, seguindo a tendência mundial.
     Em 1970, gravou o último LP desta fase,  Waldir Calmon e seus Multisons (Copacabana Discos). Em janeiro de 77, após sete anos no Canecão, voltou às viagens. Mas, em abril do mesmo ano, estreou na Churrascaria Roda-Viva, na Urca, Rio. Em dezembro de 78, recebeu uma proposta "irrecusável", como ele mesmo definia, da cervejaria e restaurante Bierklause, no Lido, Rio.  Ficou até maio de 79, quando a direção da Churrascaria Roda-Viva pediu para que voltasse a tocar na casa, fazendo uma contraproposta também "irrecusável". Voltou a gravar em 78 e lançou o disco Discoteque - Feito Para Dançar. Em 1980, gravou seu último LP: Feito Para Dançar. Este álbum pareceu um retorno às origens: deixou o órgão e voltou ao piano acústico (que, aliás, preferia tocar). Seu piano era valorizado pelo ritmo e acompanhamento claros - assim como nas primeiras gravações.
     Certo dia, disse que jamais deixara de tocar um só dia e que gostaria de morrer trabalhando. "Não conheço nada no mundo tão agradável quanto tocar", explicou. Waldir trabalhou até a madrugada do dia 11 de abril de 1982. Pela manhã, reclamou de "umas dores estranhas no peito". Não as levou a sério, pois detestava ir a médicos, e no meio de um passeio com a família teve um enfarte fulminante. Estavam todos indo comemorar o dia da Páscoa.”
    O músico se foi, mas deixou uma rica discografia, representada aquí no Blog primeiramente por este ótimo FEITO PARA DANÇAR nº 5. Toda a categoria de Waldir Calmon está a mostra nesse disco, primeiro pela ótima sequência do Lado A, com Último desejo/Molambo/Recuerdos de Ypacaray/Perfídia/Love is a many splendored thing/Lisboa antiga, e no Lado B com faixas como Night and Day e Siboney. Muito antes de existir Richard Clayderman, o Brasil apresentou Waldir Calmon – um músico incomparável!!!

Músicas

Lado A
Último desejo (Noel Rosa) / Molambo (Jayme Florence – Augusto Mesquita) / Recuerdos de Ipacaray (Demetrio Ortiz – Z. de Merkin) / Perfídia (Alberto Dominguez) / Love is a many splendored Thing (Fain – Webster) / Lisboa antiga (Raul Portela)
Lado B
01- Guacyra (Hekel Tavares)
02- Night and day (Cole Porter)
03- Risque (Ari Barroso)
04- Serra da Mantiqueira (Ary Kerner)
05- Siboney (Ernesto Lecuona)
06- Malagueña (Ernesto Lecuona)

Ilustração da capa: Bezerra

Um comentário:

  1. excepcional....já ouvia este álbum com 1 ano em 1956.....parabéns...

    Will - SP

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